Os Ahlus-Suffa
Os Ahlus-Suffa (família da sombra do telhado – “varanda”) eram um grupo de companheiros (Sahaba) muito próximos ao Profeta Muhammad (saas). Eles emigraram de Meca para se juntar a ele, em Medina, e para viverem ao seu lado, em sua mesquita, por um período temporário devido à falta de acomodação. Eles são os primeiros sufis e é aí, neste momento, que surge o sufismo.
Abū Huraira e Abū Dharr al-Ghifārī, famosos transmissores de Hadices [ditos do Profeta (saas)], estavam entre os membros mais conhecidos desse grupo de pessoas. As privações dos Ahlus-Suffa, bem como o apoio e alimentação que eles recebiam pela comunidade de muçulmanos, são objeto de numerosos Hadiths.
Para os sufis de todos os tempos, os Ahlus-Suffa são um modelo de pobreza voluntária e ascetismo, que vale à pena imitar. O Islam Sunita Tradicional vê os Ahlus-Suffa como sendo os primeiros sufis, e como um grupo ou comunidade para o intuito de aprendizagem religiosa.
A palavra Suffa, que dá nome a esta comunidade dos primeiros Sufis, se refere a um telhado sombreado (ẓulla) na parte traseira, da área norte da Mesquita do Profeta (saas) em Medina [Livro “Wafāʾ al-Wafā”, de Ahmad as-Samhūdī (Sunita Tradicional do séc. XVI); pg. 453]. Hoje a mesquita é conhecida como Al-Masjid an-Nabawi. Diferente de como é hoje, na época o telhado era feito de folhas de palmeira e argila, e as pessoas que lá estavam podiam tocá-lo por baixo, quando estendiam os braços. O lugar sombreado (mauḍiʿ muẓallal) sob este telhado também era conhecido como Suffa.
No momento em que os muçulmanos faziam o Salat (orações) ainda voltados para Jerusalém, para se alinharem, a oração era feita ali, no Suffa. Depois que Muhammad (saas) implementou a mudança para que o Salat seguisse a Qibla, direção de Meca, os pobres Muhadjirun (migrantes de Meca que moravam em Medina) beneficiaram-se disso, e os que não tinham abrigo em Medina, tomaram o lugar Suffa como refúgio e passaram a morar temporariamente ali [Livro “Wafāʾ al-Wafā”, cit.].
Umar ibn Shabba cita um companheiro do Profeta (saas) dizendo: “Quem veio a Medina e conhecia um representante tribal (arīf) lá, ficou com ele, mas quem não tinha um viveu no Suffa.” [Livro: “Tārīḫ al-Madīna al-Munauwara”, Umar ibn Shabba (Sunita Tradicional do séc. IX); pg. 286].
O número dos Ahlus-Suffa não era constante. Abū Huraira cita como tendo visto de trinta a setenta homens dos Ahlus-Suffa, orando atrás do Mensageiro de Allah (saas). [Livro: “Kitāb aṭ-Ṭabaqāt al-kabīr”, Vol. I; Muhammad ibn Saʿd (Sunita Tradicional do séc. IX); pg. 13].
Ibn Taimīya explica assim: “Uma vez eram dez ou menos, outra vez vinte, trinta ou mais e às vezes eram setenta.” Ele ainda afirma que num total, foram cerca de 400 sufis que teriam vivido lá, em diferentes períodos da vida do Profeta (saas). [Livros: “Ahl aṣ-Suffa”; Ibn Taimīya (Ulema Sunita Tradicional e sufi do séc. XIV); pg. 28].
Quando ícones do Islam descreviam os primeiros sufis daquela época, algo que era comum na descrição de todos era o voto de pobreza feito por eles, suas boas obras e suas constantes súplicas pedindo a misericórdia de Allah (swt), inspiradas na Sunnah [no modo de ser e no que falava o Profeta Muhammad (saas)]. Deixemos um dos primeiros sufis descrever esta Sunnah: Abū Huraira relatou:
“Ouvi o apóstolo de Allah (saas) dizer: “As boas obras de qualquer pessoa não o farão entrar no Paraíso” (isto é, ninguém pode entrar no Paraíso por suas boas obras). Eles (os companheiros) disseram: “Nem mesmo você, ó Apóstolo de Allah (saas).” Ele (saas) disse: “Nem mesmo eu, a menos que Allah (swt) conceda Seu favor e misericórdia a mim. Portanto, sejam moderados em suas obras religiosas e façam as obras que estão dentro de suas possibilidades. E nenhum de vocês deve desejar a morte, pois se ele é um bom executor, pode aumentar suas boas obras, e se ele é um mau executor, pode arrepender-se diante de Allah (swt).” [Sahih Muslim, 5.673].
A pobreza dos Ahlus-Suffa era particularmente evidente na área de roupas. Abū Huraira é citado como tendo dito que os trinta homens dos Ahlus-Suffa que ele viu orando atrás do Mensageiro de Allah (saas), todos usavam vestes simples (ridā). Em outra versão desta narração, Abū Huraira diz:
“Eu vi setenta do povo Suffa, nenhum dos quais estava vestindo um sobretudo. Eles usavam uma tanga (izār) ou um xale simples (kisā) amarrado no pescoço. Para alguns, chegava ao joelho, para outros, ao calcanhar. Você tinha que segurá-lo junto com sua mão para que sua Aura não ficasse visível.” [Ṣaḥīḥ al-Buḫārī, 431].
Vários relatores de Hadices dizem que Muhammad (saas) teria elogiado a pobreza dos Ahlus-Suffa. De acordo com um relato de al-Fadāla ibn ʿUbaid (Sahabi falecido em 673), o Profeta (saas) veio até eles uma vez após a oração e disse: “Se vocês soubessem qual é a posição de vocês perante Allah (swt), vocês seriam ainda mais pobres e aumentariam ainda mais.” [Hadith at-Tabarānī: al-Muʿǧam al-Kabīr . sv al-Faḍāla ibn ʿUbaid al-Anṣārī (vol. XV, p. 310)].
Em um Hadith, que remonta a Abū Huraira, está escrito: “Ahlus-Suffa eram hóspedes do Islam (aḍyāf al-islām) que não tinham família, nem propriedade nem nada mais. Se o Profeta (saas) recebia uma esmola, ele a enviava a eles e não ficava com nada. E quando um presente viesse a ele, ele o pegaria. Então ele pegava um pouco e os deixava participarem também.” [Ṣaḥīḥ al-Buḫārī, 6.087].
O modo de vida dos Ahlus-Suffa sempre foi o interesse dos sufis de outras épocas. Al-Kalābādhī (Ulema Suinta Tradicional do séc. X) considerava que um sufi verdadeiro era alguém que se parecia com um Ahlus-Suffa em caráter e se referia a ambos os grupos como ṣuffīya. [Livro: “At-Taʿarruf”; al-Kalābāḏī; pg. 07]. Além disso, al-Ghazāli (Ulema Sunita Tradicional do séc. XII e sufi) para estabelecer uma relação entre os Ahlus-Suffa e os Sufi posteriores, afirmava que os Ahlus-Suffa, assim como os sufis, sempre estavam vestidos com lã (árabe. SUF). [Livro: “Iḥyāʾ ʿulūm ad-dīn, Vol. IV; al-Ghazāli]. Vários autores sufis, incluindo Abū Nasr as-Sarrādsch (séc X) e Hudschwīrī (séc XI), dedicaram capítulos aos Ahlus-Suffa em suas obras, mostrando que o sufismo, desde as épocas que sucederam o Profeta (saas), manteve sua inspiração nestes primeiros sufis [que eram também Sahaba – companheiros do Profeta (saas)], na Sunnah e no Alcorão.
Mohamad ibn Saʿd (Sunita Tradicional do séc. X), no seu “Grande Livro da Classe” ( Kitāb aṭ-Ṭabaqāt al-kabīr ), dedicou uma seção especial aos Ahlus-Suffa. Neste livro ele designa quatro pessoas, que seguramente foram para deste grupo. Essas pessoas são: Abū Huraira , Abū Dharr al-Ghifārī, Wāthila ibn al-Asqaʿ e Qais ibn Tihfa al-Ghifārī. Abū Huraira é citado como tendo dito que ele próprio pertencia aos Ahlus-Suffa. Ibn Sathd narra as seguintes palavras de Wāthila: “Eu era um dos vinte companheiros do Mensageiro de Allah (saas) que pertenciam aos Ahlus-Suffa. Eu era o mais jovem deles.” [Livro: “Kitāb aṭ-Ṭabaqāt al-kabīr”, Vol. II; Muhammad ibn Saʿd (Sunita Tradicional do séc. IX); pg. 29].
Mas, alguns grandes ícones do Islam fizeram listas bem maiores dos Sahaba [companheiros do Profeta (saas)] que eram dos Ahlus-Suffa. Um deles foi Abū Nuʿaim al-Isfahānī (Sunita Tradicional do séc XI), que em seu livro de título “Ahl as-Suffa” descreve, em 70 páginas, um número bem maior destes primeiros sufis. Ele cita nome e vida de um total de 104 pessoas que compunham este grupo. As pessoas famosas que ele então atribuiu aos Ahlus-Suffa são Bilal Ibn Rabah, Sa`d ibn Abi Waqqas, Abū Ubaidah ibn al-Jarrah, Abdullah ibn Masud, Suhayb ar-Rumi, Abū Lubaba, Abdallāh ibn ʿUmar e SALMAAN AL-FARISI [ELE FOI O 3º MESTRE DA CADEIA DOURADA DA ORDEM NAQSHBANDI] [Livro: “Ḥilyat al-Auliyāʾ”, Vol. I; Abū Nuʿaim; pg. 376]. Isto é uma evidência concreta da relação que a Ordem Sufi Naqshbandi tem com os Ahlus-Suffa. Mostra que a origem do sufismo está nos Ahlus-Suffa. Aponta claramente que o sufismo surgiu na época do Profeta Muhammad (saas).
Na época do Profeta (saas), e, logo depois, vários eram os muçulmanos ilustres que queriam ajudar e estar ao lado dos Ahlus-Suffa, como o filho de Abū Bakr, Abdur Rahman, que frequentemente convidava 3 ou 4 dos primeiros sufis para jantar em sua casa. [Sahih Bukhari]. Em um Hadith transmitido por Muslim ibn al-Hajajaj em seu Ṣaḥīḥ, diz que os Qurrāʾ (os recitadores do Alcorão na mesquita), também participaram da alimentação dos Ahlus-Suffa. Eles cortavam lenha, vendiam e usavam o dinheiro para comprar comida para eles [Sahih Muslim]. Logo, vê-se que os primeiros sufis estavam ao lado, eram amigos, dos melhores recitadores do Alcorão, e das pessoas que eram exemplos da Sunnah do Profeta (saas). Eles mesmo eram exemplos da Sunnah.
Para a Ordem Naqshbandi a luz que estava no coração do Profeta (saas) foi passada diretamente para o coração de Abū Bakr, esta luz foi sendo transmitida para as gerações seguintes, passando dele para Salman al-Farsi (citado Alhus-Suffa que foi o 3º mestre da Ordem Naqshbandi). Este por sua vez, passou para Qasim ibn Muhammad ibn Abū Bakr. O elo seguinte desta transmissão foi Jafar as-Sadiq, e depois Bayazid al-Bistami. Então, a mesma luz que guiava os Sahaba, os Tabi’un (geração posterior), os Tabi’in (geração que sucedeu a posterior) foi perspassando no âmago, na coluna vertebral da Ordem Naqshbandi, desde os primeiros citados, aos remotos Kwajas até os mestres contemporâneos.
Essa isnad, essa silsila, essa cadeia dourada é o que define o sufismo, pois quem está no sufismo, é aquele que segue estes exemplos, desde o Profeta (saas), Abū Bakr, os Ahlus-Suffa até chegar aos mestres de nosso tempo. Ibn Abdul Barr relatou: Malik ibn Anas (Imam Malik, que fundou a Madhab de Fiqh Maliki, no séc VIII) já dizia: “Em verdade, é dever de um estudante do conhecimento se comportar com dignidade, tranquilidade e reverência e seguir o caminho daqueles que vieram antes dele.” [Jāmi ‘Bayān al-‘Ilm 619].
- Mufarridun
Quando os Ahlus-Suffa se juntavam com alguns do povo de Medina e com os muçulmanos forasteiros que chegavam lá, muitas vezes eles se sentavam em roda e faziam juntos Dhikr [Lembrança de Allah (swt)]. Quando tinha um grupo reunido, deles, fazendo Dhikr, eles eram então chamados de Mufarridun. Abū Huraira relatou que o Profeta (saas) disse: “Movam-se, porque aqui está Jundan, que se elevou aos mufarridun.” Disseram: “Que são os mufarridun?” O Profeta (saas) disse: “São os homens e as mulheres que se recordam muito de Allah [Sahih Muslim 1.436 e 2.676]. Tem um outro Hadith muito parecido, mostrando a veracidade deste, no qual relata-se que perguntaram ao Profeta (saas): “Quem são os mufarridun?” O Profeta (saas) respondeu: “Os que estão entregues à recordação de Allah e são ridicularizados por causa disso, cujo peso se elimina no Dhikr, de modo que chegam a Allah flutuando.” [Tirmidhi 3.596]. Tem alguma definição melhor para quem são os sufis? A marca principal do sufismo é o Dhikr em congregação, prática que ocorre há 1.400 anos, com o aval de nosso Profeta (saas).
O Alcorão orienta os muçulmanos e as muçulmanas a praticarem o Dhikr com muita freqüência, e que a Lembrança de Allah (swt) é muito benéfica para o nosso coração. Diz o Alcorão: “A que são fiéis e cujos corações sossegam com a recordação de Deus. Não é, acaso, certo, que à recordação de Deus sossega os corações? (13:28). E diz também: “E recorda-te do teu Senhor intimamente, com humildade e temor, sem manifestação de palavras, ao amanhecer e ao entardecer, e não sejas um dos tantos negligentes” (07:205). Há várias outras passagens do Livro Sagrado que mostram esta importância, e dezenas de Hadices que apontam que esta é a Sunnah do Profeta (saas).
Uma das principais características do sufismo é a ênfase na prática do Dhikr. O ser humano poderá despertar sua alma, através do Dhikr, da hipnose da Dunya (deste mundo material em que vivemos – Terra), que o torna adormecido, senão morto, para as realidades celestiais. Isso é o que afirma o Profeta (saas): Abū Musa narrou que o Profeta (saas) disse: “Quem se lembra de seu Senhor e quem não se lembra é como os vivos e os mortos.” [Sahih Bukhari 6.044]. O sufi se inspira no Profeta (saas) neste quesito, pois é dito que o Profeta (saas) costumava invocar a Allah (swt) [fazer Dhikr] a todo o momento (de pé, sentado, deitado, quieto, movendo-se) [Sahih Muslim, 1.282].
O que algumas linhas mais literalistas e extremistas do Islam dizem é que o Dhikr em congregação é uma inovação dos sufis. Que o Profeta (saas) nunca autorizou isso. Os sufis faziam esta prática na época dele e foram elogiados por ele ao fazerem o Dhikr em congregação: Abū Said Khudri narra que o Mensageiro de Allah (saas) chegou a um grupo de seus companheiros na mesquita e disse: “Por que vocês estão sentados aqui?” Eles disseram: “Estamos sentados lembrando Allah e agradecendo a Ele por Seu favor de nos guiar ao Islã”. O Profeta (saas) disse: “Vocês dizem sob juramento, que foi isso que os fez sentarem aqui?” Eles disseram: “Por Allah, estamos sentados aqui apenas para esse fim”. O Profeta (saas) disse: “Eu não fiz vocês prestarem juramento por nenhuma dúvida, mas a verdade é que Gabriel [Anjo Jibril (as)] veio e me disse que Allah está expressando Seu orgulho de vocês na frente dos anjos.” [Tirmidhi 3.379]. Então, as práticas sufis existem desde a época de Muhammad (saas) e elas foram autorizadas por ele. O Dhikr em congregação dos sufis não é uma prática que só terá uma recompensa futura, no mundo celestial. É uma prática que a pessoa sente a recompensa, as bênçãos de fazê-la, no exato momento em que a está fazendo: O Profeta (saas) disse: “Existem muitos anjos de Allah, além dos designados para tarefas normais, que viajam à procura de sessões de Lembrança de Allah. Quando eles encontram uma sessão em que a Lembrança de Allah está em andamento, eles se sentam com eles e alguns anjos cobrem os outros com as asas subindo um sobre o outro até que o espaço entre a terra e o céu mais baixo seja preenchido.” [Sahih Muslim, 2.689 e semelhante Tirmidhi 3.600].
As correntes salafi e wahabi, os literalistas do Islam, falam que o Hadra (forma de Dhikr em que há recitações em movimento, dos mais variados) são inovações do sufis, que o Profeta Muhammad (saas) nunca teria autorizado isso. Outra mentira que contam sobre o sufismo. Como podemos ver neste Hadith: Abū Said Khudri narrou que o Mensageiro de Allah (saas) disse: “Lembre-se de Allah tanto que as pessoas comecem a dizer: ‘Ele ficou louco.’ Hadith atestado por Ahmad ibn Hanbal, [al-Masnad 11.671]. Ahmad ibn Hanbal [Imam Mujtahid do séc IX] é muito citado por estes fundamentalistas, e percebemos aí que ele estava de acordo com as práticas do sufismo. Outro exemplo semelhante, de alguém que é muito citado por eles, é do Imam Nawawi [Ulema Sunita do séc. XIII], que disse em seu livro de interpretações do Sahih Muslim, que esta narração, deste Hadith dos Mufarridun, significa que: “Eles são os que se agitam ou se movem na menção ou recordação de Allah”.
- Conclusão
Conclui-se que os Ahlus-Suffa tinham o estilo de vida como a dos sufis, usavam as mesmas vestimentas, tinham as mesmas práticas, e membros que compunham este grupo foram transmissores da Baraka (bênção) do Profeta (saas) para os mestres da Ordem Naqshbandi. Além do óbvio do mesmo nome Suffa e Sufi terem aí as mesmas raízes e significações.
Não importa o nome que damos para um modo de vida e práticas, pautadas numa religião. Se chamarmos isso de Ahlus-Suffa, Mufarridun ou Sufi. O importante é a realidade que compreende estes nomes ser a mesma, podendo ser expressa por nomes diferentes. Posso dizer que tenho uma pessoa que converso com freqüência que é o meu amigo, ou meu colega, ou ainda meu companheiro de prosa. O mesmo raciocínio podemos usar para algo que é essencialmente o mesmo, mas mudou o nome ao longo da história. Há mais de 5.000 ac existia o artesão vidreiro, que fabricava o vidro. Na época do Renascimento, há séculos atrás, chamavam estes profissionais de artistas do vidro. Hoje quem fabrica o vidro é a indústria de vidros. Chamados de os industriais do vidro. A essência da atividade deles é a mesma, mesmo que mude de nome. Assim a essência do Ahlus-Suffa, do Mufarridun e do Sufi é a mesma: Viver constantemente a Lembrança de Allah (swt) e conectar o coração com Allah (swt).
Esta é a opinião dos Imames das 4 Madhabs (escolas de jurisprudência) sobre o sufismo. Todos eles vêem essa função essencial comum nos sufis, ao longo de toda a história do Islam. Imam Ahmad ibn Hanbal disse: “Ó meu filho, você tem que se sentar com o Povo do Sufismo, porque eles são como um manancial de conhecimento, e mantêm a Recordação de Allah em seus corações. Eles são ascetas e têm o maior poder espiritual.” [Tanwir al-Qulub p. 405]. O grande Imam Abū Hanifa disse: “Se não fossem por dois anos, eu teria perecido.” Ele continuou: “Por dois anos, acompanhei Sayyidina Ja’far as-Sadiq e adquiri o conhecimento espiritual que fez de mim um gnóstico no Caminho (sufi).” [Ad-Durr al-Mukhtar, vol 1. p. 43]. O Imam Abū Hanifa era sufi, como ele mesmo afirmou, ele aprendeu o Islam, a Sharia (lei islâmica) com Ja’far as-Sadiq, que foi o 5º mestre da Ordem Naqshbandi. O próprio Imam Abū Hanifa afirmou que aprendeu sufismo com Ja’far as-Sadiq. Logo este último grande ícone do Islam era sufi também, como afirma a Naqshbandi.
O Imam Shafi’i disse, sobre o sufismo: “Eu acompanhei os Sufis e recebi deles três conhecimentos: como falar; como tratar as pessoas com leniência e suavidade, e eles guiaram-me nos caminhos do Sufismo.” [Kashf al-Khafa, ‘Ajluni, vol. 1, p 341]. Linda fala deste outro grande Imam sobre o sufismo, atestando ele ter sido sufi também.
O Imam Malik disse, sobre o sufismo: “Aquele que estudar Jurisprudência (tafaqaha) sem estudar Sufismo (tasawwafa) se corromperá; e aquele que estudar Sufismo sem estudar Jurisprudência se tornará um herege; mas aquele que combinar os dois alcançará a Verdade.” [‘Ali al-Adawi , vol. 2, p 195]. O que o sufismo propõe ao seu praticante? Mostrar-lhe a Verdade, através do contato direto do coração do sufi com Allah (swt). O sufi chegará a Verdade fundido o Islam externo, Sharia, com o Ihsan (camada interna do Islam, a excelência do caráter). O salafi e wahabi só estudam Fiqh (jurisprudência), logo vê-se ao a origem de sua corrupção.
Esta é a opinião destes 4 que estão entre as maiores autoridades do Islam Sunita Tradicional, sobre o sufismo. Inclusive os 4 eram sufis.
Para os muçulmanos contemporâneos que estudam os Ahlus-Suffa, como Mohamad Hamidullah (estudioso da lei islâmica e autor acadêmico com mais de 250 livros, faleceu em 2002. Ele escreveu extensos trabalhos sobre ciência, história e cultura islâmicas, que foram publicados em várias línguas), disse em seu livro “Le prophète de l’Islam” (1959), que os “Ahlus-Suffa” são a “primeira universidade islâmica arquetípica”. Ele disse que a Mesquita do Profeta (saas) deveria ser entendida como uma sala de aula, o Suffa (a varanda), como um dormitório, os Ahl as-Suffa como estudantes e o Profeta (saas) como um professor e mentor desta universidade. É essa a herança e a origem do sufismo. O sufismo era e é uma universidade, uma escola, um caminho para se viver o Islam. O sufi tem como seu ponto de encontro a Dergah, Majlis ou Tekia (palavras que significam a mesma coisa). Os discípulos do sufismo são estudantes de como conectar o coração com Allah (swt) e seu professor é o Profeta Muhammad (saas) que é refletido num espelho, chamado mestre, mawlana, murshid ou pir.
O mais importante é você conectar seu coração com Allah (swt), viver plenamente a experiência direta da Verdade, e ter como o que delimita esta estrada rumo a Verdade, a Sharia. Deste modo, você não se perderá nesta estrada. Assim, o sufi chega aos mais elevados níveis espirituais possíveis ao ser humano, neste planeta, hoje.
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