O Profeta Muhammad (saas) nasceu em 570 dc, na cidade de Meca, na Península Arábica, parte da atual Arábia Saudita. Seu pai, Abdullah Ibn Abdul Muttalib, do clã Banu Hashim da tribo Quraysh, morreu logo após o casamento. Sua mãe, Aminah Bint Wahb, pouco tempo após o seu nascimento, enviou-o para o deserto para ser alimentado por uma ama de leite (costume da época, os árabes achavam que o deserto era salutar para o corpo e imunidade do bebê).
Aos 3 anos voltou a viver com sua mãe, foi feliz ao lado dela por três anos. Quando ele fez 6 anos, ela faleceu, ficando ele sob os cuidados de seu avô, Abdul Muttalib. Dois anos depois também seu avô faleceu, e Muhammad (saas), ficou desta vez sob os cuidados de seu tio, Abū Talib.
Aos nove anos, fez uma viagem pelo deserto acompanhando seu tio, durante a qual foi reconhecido por um monge cristão como o Profeta aguardado, que afirmou isso segundo um manuscrito antigo que passava de geração em geração de monges que ali viviam, e aos prodígios que ocorreram na ocasião.
Contam que foi um excelente arqueiro na adolescência e já começou a ser conhecido como uma pessoa extremamente confiável e honesta.
Após seus 20 anos, passou a receber mais convites de seus parentes para acompanhá-los em viagens a outros países, e gradualmente sua situação material melhorou, tornando um matrimônio possível. Nessa ocasião, ele se interessou por uma jovem, mas ela havia sido prometida a outro antes dele, e o casamento não se concretizou.
Os anos passaram e Muhammad (saas) foi contratado por Khadija, uma rica comerciante de Meca, já viúva duas vezes, para levar suas mercadorias à Síria – Muhammad (saas), então, nesta época já era conhecido com os nomes de al-Amin, “O Justo”, “o Honesto”, “o Digno de Confiança”, por sua reputação ilibada.
Khadija ofereceu a ele casamento, e Muhammad (saas) aceitou. Ela tinha então 40 anos, e ele 25. Khadija não era só uma esposa, mas também uma amiga. Compartilhava de seus ideais e aspirações. Sua união foi abençoada e feliz. Khadija deu a ele seis filhos, dois meninos e quatro meninas. Qasim e Abdullah faleceram em tenra idade. Zainab, Ruqayya, Umm Kulthum e Fátima são os nomes de suas filhas.
Quando o Profeta Muhammad (saas) tinha 35 anos, os Quraysh [tribo da qual pertencia Muhammad (saas) e que após o início da revelação do Alcorão se opuseram fortemente a ele] decidiram reconstruir a Kaaba, pois seus muros estavam muito baixos e erodidos, o que facilitou ela de ser assaltada certa vez. Na reconstrução, um primeiro homem retirou uma pedra do topo de um dos muros, mas assim que levantou a pedra, ela lhe escapou das mãos e retornou ao seu lugar sozinha. Os que presenciaram o fato, afastaram-se assustados. O chefe do clã Makhzum pegou o enxadão e disse: “O Deus, não nos atemorize, só queremos fazer algo de bom”, e fez cair as paredes. Então, descobriram no solo grandes pedras arredondadas esverdeadas, parecidas com corcovas de camelos, grudadas umas nas outras. Quando se tentou separá-las, a terra tremeu por toda Meca, o que foi entendido como um sinal de que não se devia tocar nas fundações, feitas pelo Profeta Abrãao (as) e seu primogênito Ismail. Havia ainda uma Pedra Negra, orientada para o sudeste, e lá encontraram inscrições em dialeto aramaico, que dizia: “Eu sou o Deus, o Senhor de Meca. Eu criei esta pedra no mesmo dia em que criei os céus e a terra, no dia em que Eu formei o sol e a lua, e ao redor dispus sete anjos. Ela subsistirá enquanto restem erguidas duas colunas, e será uma fonte abençoada de leite e água para seu povo”.
O trabalho de reconstrução continuou, e quando chegou o momento de voltar a Pedra Negra para seu lugar original, surgiu uma discussão entre os clãs, pois cada um reivindicava a honra de erguê-la em seu lugar. Discutiram por 4 ou 5 dias, sem ninguém ceder. Surgiu, então, uma proposta: o primeiro homem que adentrasse no local onde estava a Pedra Negra em Kaaba, arbitraria o litígio. E esse homem foi Muhammad (saas), que acabava de voltar a Meca, de uma viagem. Sobre a questão, ele (saas) disse: “Que cada clã pegue nas mãos uma borda do manto, e todos elevem juntos a Pedra.” Ele pediu um manto, o estendeu sobre a terra, tomou a Pedra Negra e pousou-a no centro do manto. Quando ela foi erguida na altura certa, ele a apanhou com as próprias mãos e encaixou-a no ângulo do muro. No Alcorão há várias passagens sobre Kaaba, como, por exemplo, as seguintes: (02:124-129), (05:97), (48:24-25).
Cada vez mais Muhammad (saas) era conhecido por Al-Amin (o confiável), pois muitos eram os escravos que deviam sua liberdade à Muhammad (saas), e muitos eram as viúvas e órfãos que eram ajudados por ele. Sempre que as injustiças que seu povo sofria apertavam o coração do Profeta, Muhammad (saas) retirava-se para a solidão de uma caverna no Monte Hira, que é fora de Meca. Lá Muhammad (saas) ficava sozinho contemplando a Allah (swt). Estes momentos se repetiram várias vezes, e a solidão se tornou uma paixão para ele. Todos os anos ele se retirava para uma caverna durante todo o mês do Ramadan, para meditar.
Foi em uma dessas ocasiões, quando ele tinha quarenta anos de idade, que Muhammad (saas) começou a receber a revelação de Allah (swt), chamada de Sagrado Alcorão. Numa noite, enquanto estava mergulhado dentro de si mesmo, no ano de 610 dc, Gabriel, anjo Jibril (as), aparece diante dele e o ordena “Leia!”. Ele respondeu: “Mas, não sei ler!”. Então o anjo Gabriel o abraçou fortemente e revelou a ele as primeiras linhas do capítulo 96 do Alcorão: “Leia: Em nome do seu Senhor, (1) Que criou o homem a partir de um coágulo. (2) Leia: E o seu Senhor é o Mais Generoso, (3) Que ensinou pela caneta, (4) Ensinou ao homem o que ele não conhecia”. [Bukhari 4.953]. Alarmado com a experiência, Muhammad (saas) correu para sua casa em busca de descanso e consolo, com a mente ainda perturbada com o ocorrido. Sob os cuidados de Khadijah, ele se acalmou e recobrou o conforto. Passado uns dias, depois de se recuperar, ele buscou a solidão das colinas para acalmar sua angústia remanescente, quando o Anjo Jibril (as) apareceu novamente e o relembrou de seu dever para com a humanidade. Assustado, ele correu de volta para sua casa e pediu a Khadijah para envolvê-lo em roupas quentes. Ela fez o possível para tranquilizá-lo, dizendo que sua conduta ao longo da vida havia sido tal que Allah (swt) não permitiria que nenhum mal viesse até ele.
Mais tarde, ela consultou seu parente, Waraqah ibn Nawfal, um homem idoso, que conhecia os Livros Sagrados anteriores. Ele afirmou que, o que Muhammad (saas) falava, mostrava que ele havia sido escolhido como um Profeta de Allah (swt). Só de pensar em ser escolhido, entre toda a humanidade, para tal missão, isso perturbou profundamente a mente humilde e devota de Muhammad (saas). Khadijah foi a primeira pessoa a aceitar a verdade de sua missão, e depois, comunicou sua experiência a seu primo Ali, seu filho adotivo Zayd e seu amigo íntimo Abū Bakr. Como os três conheciam muito bem Muhammad (saas), sabiam de seu caráter ilibado e que ele nunca mentiria, aceitaram sua missão e se tornaram muçulmanos.
O Profeta (saas) começou difundindo o Islam secretamente, primeiro entre seus amigos íntimos, depois entre os membros de sua própria tribo e, posteriormente, publicamente na cidade e nos subúrbios. Sozinho, ele proclamou a glória de Allah (saas), denunciou publicamente a idolatria de seu povo e seus maus caminhos, e os chamou para adorarem somente a Allah (swt). A tribo Quraysh era a guardiã de Kaaba, o lugar sagrado para o qual todos os árabes faziam peregrinação. Isso lhes garantia grande prestígio e lucro para a cidade de Meca. Eles ficaram, portanto, seriamente alarmados e se tornaram ativamente hostis a Muhammad (saas), que agora pregava publicamente contra a adoração dos ídolos na Kaaba, que ocupava o primeiro lugar entre os peregrinos. Durante a temporada de peregrinação, homens foram postados em todas as estradas para alertar as tribos que chegavam em Meca contra o louco que pregava contra seus deuses. Os primeiros convertidos de Muhammad (saas), que eram em sua maioria pessoas humildes, sofreram grande opressão. E, apesar de sua posição, o próprio Muhammad (saas) teria sido morto se os coraixitas não tivessem sido dissuadidos pelo medo da vingança de sangue de seu poderoso clã, Banu Hashim.
A perseguição aumentou à medida que os convertidos de Muhammad (saas) aumentaram em número e influência. A fúria do povo de Meca não tinha limites. Muhammad (saas), o cidadão respeitado, “Al-Amin” de seu povo, agora sofria insultos, violência e uma amarga perseguição, e seus convertidos foram implacavelmente oprimidos, perseguidos e torturados. Profundamente triste devido à situação infringida a seus seguidores, Muhammad (saas) os aconselhou, no quinto ano do início de sua missão, a deixarem Meca e buscar refúgio da perseguição dos idólatras entre o povo cristão da Abissínia. Muhammad (saas) e alguns seguidores leais, permaneceram em Meca e sofreram miséria e opressão indescritíveis, mas seu número continuou a aumentar. Os coraixitas se compunham de alguns clãs. Outros clãs, pediram ao clã de Banu Hashim [de Muhammad (saas)], que renunciasse o direito de vingar o sangue de Muhammad (saas), pois eles queriam matá-lo, para acabar com a expansão do Islam dentre seus próprios membros. Embora não fossem muçulmanos e participassem da perseguição à Muhammad (saas), os orgulhosos membros do clã se recusaram a desistir do direito à vingança. Muhammad (saas), seus seguidores do Banu Hashim e do Banu Al-Muttalib sofreram tantas privações, que o povo de Meca começou a achar que não deveriam mais oprimir tanto seus velhos amigos, vizinhos e parentes.
No final de 617 dc, as proibições aos muçulmanos foram suspensas. Banu Hashim e Banu Al-Muttalib agora estavam livres para seguir suas vocações, mas a crítica a Muhammad (saas) tornou-se cada vez mais implacável. Um ano depois, Muhammad (saas) perdeu seu tio e protetor, o nobre Abū Talib (líder dos Banu Hashim), e sua amada esposa, Khadijah, em cujo amor ele encontrou conforto, consolo e encorajamento. A morte de Abū Talib removeu o último controle sobre a violência em Meca. Muhammad (saas) estava agora indefeso e em perigo contínuo de vida. A perseguição tornava-se cada vez mais violenta, e Muhammad (saas) buscou refúgio na cidade vizinha de Taif, onde foi expulso com grande hostilidade e escapou por pouco da morte. Muhammad (saas) fez vários convertidos em um grupo de peregrinos da próspera cidade de Yathrib. Após a peregrinação, os homens de Yathrib voltaram para sua cidade. No ano seguinte, na época da peregrinação, setenta e três homens de Yathrib foram a Meca para jurar fidelidade ao Profeta (saas) e o convidaram para se mudar para sua cidade. Muhammad (saas) aceitou este conselho deles e decidiu, com seus seguidores de Meca, que eles seguiriam para Yathrib. Eles partiram gradualmente e sem obstrução, Muhammad (saas) permaneceu em Meca até o fim. Sua intenção de partida foi logo descoberta pelos coraixitas, que decidiram matar Muhammad (saas) antes que ele também escapasse, pois embora odiassem a ideia de sua pregação entre eles, temiam ainda mais a disseminação de sua influência, se ele escapasse de Meca. Eles escolheram quarenta homens, um de cada clã, que fizeram o juramento solene de matar Muhammad (saas). Eles optaram em atacar simultaneamente, para que o assassino não pudesse ser vingado, por uma rixa de sangue. Mas, na noite em que se escolheu matar Muhammad (saas), ele deixou Meca com Abū Bakr.
Até agora estudamos a vida do Profeta (saas) antes da Hégira. A maior parte das informações biográficas que a tradição islâmica preserva sobre Muhammad (saas) foi extraída de fora do Alcorão. As informações biográficas do Profeta Muhammad (saas), estão no que é chamado de literatura Sīrah (árabe: “biografia”).
Indiscutivelmente, o trabalho mais importante do gênero, é de Mohamad ibn Isḥāq (falecido em 767 ou 768 dc), que é o Kitāb al-Maghāzī [“Livro das Expedições Militares”, do Profeta (saas)]. No entanto, este trabalho existe apenas em retrabalhos e resumos posteriores, dos quais o mais conhecido é Abdul Malik ibn Hishām (falecido entre 833 ou 834 dc). Há também o Sīrat Muḥammad rasūl Allāh (“Vida de Muhammad, o Mensageiro de Deus”). A partir da emigração do Profeta (saas) de Meca para Medina, há relatos mais precisos, que já estavam em circulação no final do século VII.
A Hégira, o ano 0 do calendário Islâmico, é justo este momento da fuga de Muhammad (saas) de Meca, para não ser assassinado. O Alcorão cita a Hégira na Sura (02:191). A Hégira ocorreu em 21 de junho de 622 dc e durou até dia 2 de julho de 622 dc. Evitando seus perseguidores, o Profeta (saas) conseguiu se adiantar por uma longa distância no deserto e alcançou a cidade de Yathrib, a partir de então passou a ser conhecida como Medina. Muhammad (saas) agora estava livre para pregar e seus seguidores aumentaram rapidamente. Os muçulmanos podiam então adorar a Allah (swt) e viver de acordo com Suas leis.
Foi durante esse período, com o Profeta (saas) agora chefe de um território e de uma nação, a Ummah (nação) Islâmica, que a maioria dos versos do Alcorão sobre as regras em sociedade foram revelados. Inclusive Muhammad (saas) ditou a Constituição de Medina, que garantia direito de culto e demais direitos aos judeus e cristãos. Mas, seus inimigos em Meca não concordavam que Muhammad (saas) ficasse tranquilo em Medina. Eles organizaram três grandes expedições contra a cidade, para tentar matar novamente o Profeta (saas) e destruir o Islam, mas todas foram derrotadas.
Em 628 dc, Muhammad (saas) e cerca de mil dos seus seguidores aproximaram-se de Meca, declarando a sua intenção de praticar o Hajj. Então, depois de um período de tensão, assinou-se o Tratado de Hudaybiyah, que foi uma trégua entre os muçulmanos, liderados pelo Profeta Muhammad (saas), e a tribo dos coraixitas, assinada no oásis de Al-Hudaybiyah. Com esta trégua de paz, o Profeta (saas) estabeleceu um programa intensivo para a propagação do Islam. Poucas semanas depois do Tratado de Hudaybiyah, Muhammad (saas) mandou cartas para vários reis e também aos imperadores bizantinos e persas, convidando-os ao Islam. O rei da Abissínia e o governante do Bahrein aceitaram o Islam, enquanto o imperador bizantino, Heráclio, reconheceu a profecia de Muhammad (saas), mas afirmou não estar disposto a entrar para o Islam. Foi somente no oitavo ano após a Hégira que os monoteístas islâmicos conseguiram pôr fim a guerra obtendo uma vitória sem derramamento de sangue sobre Meca, quando os maquenses violaram os termos de seu tratado. Isto ocorreu em 630 dc, quando algumas tribos Beduínas junto aos coraixitas estavam novamente se preparando para assassinar o Profeta (saas). Isso foi considerado por Muhammad (saas) como uma quebra do tratado. Muhammad (saas) e 10.000 dos seus seguidores marcharam sobre Meca e exigiram a rendição da cidade, que se rendeu sem ocorrer nenhum conflito. O povo de Meca, que havia oprimido implacavelmente Muhammad (saas) e seus seguidores por vinte e um anos, esperavam uma terrível vingança, mas na hora de sua derrota foram tratados com um enorme respeito. “Vão, vocês estão livres!”, foram as com palavras como quais Muhammad (saas) lhes concedeu anistia geral. O Profeta (saas) removeu todos os ídolos de dentro e ao redor da Kaaba, dizendo: “A verdade chegou e a falsidade desapareceu. De fato, a falsidade está destinada a desaparecer” (17: 81). Então, o chamado para a oração (Adhan) foi ouvido neste antigo santuário. A rendição de Meca foi seguida pela submissão das tribos vizinhas e o reconhecimento da liderança espiritual de Muhammad (saas) sobre toda a Arábia.
Durante o nono ano da Hégira (631 dc), delegações chegavam de todas as partes da Arábia para jurar fidelidade ao Profeta (saas) e ouvir o Alcorão. O Islam então se espalhou aos confins da Península Arábica e das regiões do sul do Iraque e da Palestina, todos abraçavam o Islam voluntariamente. No décimo ano (632 dc), Muhammad (saas) foi a Meca como peregrino, para fazer o Hajj, e ele sentiu que era a última vez, devido à Revelação que se completou lá, através do versículo, “[…] Neste dia Eu aperfeiçoei sua religião para você e completou-se Meu favor a você […]” (05:03). Em seu retorno a Medina, ele adoeceu de uma febre mortal. Durou quinze dias, nos quais ele continuou a liderar as orações até três dias antes de sua morte, quando delegou as orações para a liderança de Abū Bakr. Na madrugada do último dia de sua vida terrena, Muhammad (saas) saiu de seu quarto ao lado da mesquita e se juntou às orações públicas, mas no final do dia ele morreu. O fim veio de maneira nobre, com as súplicas de perdão e os pedidos de companhia dos justos no Paraíso, o Profeta do Islam (saas) deu seu último suspiro, aos 63 anos de idade, na quarta-feira, 12 Rabi` al-Awwal (11º ano da Hégira – 632 dc). Quando sua missão terminou, o Profeta (saas) foi saudado por seus seguidores, homens e mulheres.
O Islam continuou sua expansão. Noventa anos após a morte do Profeta (saas), a luz do Islam brilhava na Espanha, no Norte da África, no Cáucaso, no Noroeste da China e a na Índia. Hoje somos 2 bilhões de muçulmanos. 25% da população total do planeta Terra.
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